Páginas

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Kundera e as Flores Tropicais!


Só os ideais e as loucuras de pensadores explicam como puderam se reunir em um lago gelado em meio à Primavera de Praga, gênios como Milan Kundera, Gabriel García Márquez, Júlio Cortázar e Carlos Fuentes.
Eis o relato de Fuentes que revela os gritos de García Márquez, quase congelando, de ‘somos flores tropicais’!!!!


“Minha relação com García Márquez é de longa data. São 40 anos de amizade.
Não tenho como escolher só um momento. Escolho os 40 anos! Em 1968, um dos anos cruciais na História, houve os acontecimentos de maio em Paris e os de outubro, no México, além da Primavera de Praga.

Como estava muito envolvido na Primavera de Praga, Milan Kundera convidou vários escritores a visitarem Praga. Era uma situação surreal, porque o exército soviético havia cercado Praga e estava esperando. Fingimos que Praga ainda era um lugar socialista democrático, mas já não era. Milan convidou também Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Também convidou Günter Grass. Depois, chamou García Márquez, Julio Cortázar e a mim. Estávamos em dezembro. Fazia muito frio.

Continuávamos fingindo que o socialismo democrático tinha futuro na Tchecoslováquia, mas, quando chegou janeiro, já sabíamos que não era o caso. Milan Kundera nos disse que, em Praga, as paredes tinham ouvidos. Tudo que dizíamos era gravado. O único lugar seguro era a sauna. Fomos conversar na sauna, então. Mas Cortázar foi logo dizendo: “Não entro em saunas! Sou alto demais e magro demais. Eu me recuso a ser visto em uma sauna!”. García Márquez e eu acompanhamos Milan Kundera - que nos contou suas ideias sobre a Primavera de Praga. Estava muito quente na sauna, é lógico.

Eu, então, disse: “Cadê o chuveiro? Estamos suando de calor!” Milan pediu que o seguíssemos. Abriu a porta e nos levou até o rio Vltava. Lá, ele nos jogou na água! García Márquez dava pulos e dizia: ”Sou uma flor tropical!”  Depois, voltou a mergulhar. Não me lembro do que disse, porque estava frio demais. Kundera ria um bocado. É uma lembrança. Imagine um rio em Praga em dezembro. Blocos de gelo passavam ao lado. E havia dois escritores latino-americanos dizendo: ”Somos flores tropicais! O que é que estamos fazendo aqui?”

“Cortázar era um homem extraordinário. Extremamente inteligente e bondoso. Era um homem bondoso, gentil. Também era muito corajoso e se enfurecia com certos acontecimentos, especialmente com o que se viu na Argentina. Acima de tudo, foi um grande escritor. Contou grandes histórias. ”Rayuela” é um grande romance. São monumentos ao gênio que foi Cortázar. Quando ele morreu repentinamente, eu estava em Nova York. Vi no jornal. Telefonei para García Márquez – que estava no México. Disse: “Gabo, tenho uma notícia terrível. Nosso grande amigo Julio Cortázar morreu!”.  Houve um momento de silêncio. Depois, García Márquez disse: ”Não acredite em tudo que lê nos jornais….”

Minha fonte:
Blog de Geneton Moraes Neto – Portal G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário