Só os ideais e as loucuras
de pensadores explicam como puderam se reunir em um lago gelado em meio à
Primavera de Praga, gênios como Milan Kundera, Gabriel García Márquez, Júlio Cortázar
e Carlos Fuentes.
Eis o relato de Fuentes que revela os gritos de García Márquez, quase congelando, de ‘somos flores tropicais’!!!!
Eis o relato de Fuentes que revela os gritos de García Márquez, quase congelando, de ‘somos flores tropicais’!!!!
“Minha relação com García
Márquez é de longa data. São 40 anos de amizade.
Não tenho como escolher só um momento. Escolho os 40 anos! Em 1968, um dos anos cruciais na História, houve os acontecimentos de maio em Paris e os de outubro, no México, além da Primavera de Praga.
Não tenho como escolher só um momento. Escolho os 40 anos! Em 1968, um dos anos cruciais na História, houve os acontecimentos de maio em Paris e os de outubro, no México, além da Primavera de Praga.
Como estava muito envolvido
na Primavera de Praga, Milan Kundera convidou vários escritores a visitarem
Praga. Era uma situação surreal, porque o exército soviético havia cercado
Praga e estava esperando. Fingimos que Praga ainda era um lugar socialista
democrático, mas já não era. Milan convidou também Jean-Paul Sartre e Simone de
Beauvoir. Também convidou Günter Grass. Depois, chamou García Márquez, Julio
Cortázar e a mim. Estávamos em dezembro. Fazia muito frio.
Continuávamos fingindo que
o socialismo democrático tinha futuro na Tchecoslováquia, mas, quando chegou
janeiro, já sabíamos que não era o caso. Milan Kundera nos disse que, em Praga,
as paredes tinham ouvidos. Tudo que dizíamos era gravado. O único lugar seguro
era a sauna. Fomos conversar na sauna, então. Mas Cortázar foi logo dizendo:
“Não entro em saunas! Sou alto demais e magro demais. Eu me recuso a ser visto
em uma sauna!”. García Márquez e eu acompanhamos Milan Kundera - que nos contou
suas ideias sobre a Primavera de Praga. Estava muito quente na sauna, é lógico.
Eu, então, disse: “Cadê o
chuveiro? Estamos suando de calor!” Milan pediu que o seguíssemos. Abriu a
porta e nos levou até o rio Vltava. Lá, ele nos jogou na água! García Márquez
dava pulos e dizia: ”Sou uma flor tropical!”
Depois, voltou a mergulhar. Não me lembro do que disse, porque estava
frio demais. Kundera ria um bocado. É uma lembrança. Imagine um rio em Praga em
dezembro. Blocos de gelo passavam ao lado. E havia dois escritores
latino-americanos dizendo: ”Somos flores tropicais! O que é que estamos fazendo
aqui?”
“Cortázar era um homem
extraordinário. Extremamente inteligente e bondoso. Era um homem bondoso,
gentil. Também era muito corajoso e se enfurecia com certos acontecimentos,
especialmente com o que se viu na Argentina. Acima de tudo, foi um grande
escritor. Contou grandes histórias. ”Rayuela” é um grande romance. São
monumentos ao gênio que foi Cortázar. Quando ele morreu repentinamente, eu
estava em Nova York. Vi no jornal. Telefonei para García Márquez – que estava
no México. Disse: “Gabo, tenho uma notícia terrível. Nosso grande amigo Julio
Cortázar morreu!”. Houve um momento de
silêncio. Depois, García Márquez disse: ”Não acredite em tudo que lê nos
jornais….”
Minha fonte:
Blog de Geneton Moraes Neto – Portal G1
Blog de Geneton Moraes Neto – Portal G1
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