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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Piscar de Olhos


- Se eu ganhasse uma bolada na Mega Sena eu acertaria a vida de (quase) toda minha família e sumiria do mapa por uns 3 anos, disse-me um amigo dos tempos de faculdade. Essa é uma sentença já bem conhecida. Quase todo mundo um dia já pensou algo assim. Mas um bar e um amigo dos tempos de faculdade quase sempre nos levam a outras conversas. Da Mega Sena, rapidamente passamos ao passado e ao futuro. Com amigos do tempo de faculdade, quase nunca se fala do presente. Estranho isso. Quase nunca mesmo!


- Daqui há 10 anos, o que eu quero mesmo é reduzir essa maldita rotina, dizia ele. Outro clichê em mesa de bar com amigo do tempo de faculdade. E é incrível como estas frases repetidas tantas vezes, continuam nos dando esperanças. O fato é que eu devo ter ficado uns bons 15 minutos com aquela ‘cara de paisagem’, olhando não para, mas través do meu amigo do tempo de faculdade. E aí desembestei.

“Quando eu tiver cinco... ou mesmo quatro anos de idade, é bem provável que eu ache os pulinhos que meu filhote de gato dá sobre uma folha de árvore são a coisa mais engraçada do mundo”. Eu nunca rira tanto, nem com meus 40 anos... Com cinco, porém... ou mesmo com quatro, vou ter a certeza de poder ficar ali, olhando o gato por horas. Porque, se tudo der certo, não vai haver tempo para se perder. Meu tempo com o gato vai ser meu único e meu melhor tempo.

“Nunca tive relação melhor com as pessoas do que quando passei 60 anos”. Com a maioria delas, eu acho. “Especialmente as mais difíceis. Interessante porque, naquela época, nenhuma frase me ofendia. Nada para mim era pessoal. Acho que eu sabia mais das pessoas e elas não me roubavam a tranquilidade. E como era bom não ter medo de ninguém, não se intimidar por ninguém. Eu queria mesmo era conversar sem interesse algum, mas não me fazia diferença alguma a opinião dos outros”. Engraçado isso.

Bom, aí eu fiz 33. Não me lembro bem, mas acho que foi ali que eu perdi a capacidade de dizer ‘não’ e isso me causou problemas. Até onde me lembro, eu costumava ter boa noção do que queria e, por isso, dizia não quando era preciso dizer. É estranho, mas o tempo passa, vamos ficando jovens e perdendo essa capacidade. Parece que tudo fica turvo. Meu papel no mundo, meus objetivos e minhas ambições... tudo isso fica atrás da cortina, ou melhor, a gente se confunde com os objetivos... dos outros. Aí fica difícil saber a quem seguir e por quem se deixar seguir.

E até meus 28, as coisas se mantinham naquela inércia natural da vida. A inércia resultante da tal falta de visão do futuro. Pensando bem, a ignorância pode ser uma dádiva e tudo parece que vai se manter como está. Mas não vai!

Porque naqueles 28 nasceu alguém. Não foi um susto, mas um evento desses vem carregado de expectativas, de medos, de muita emoção. Eu não sei bem porque, mas esse é o tipo de evento que faz a gente começar a olhar toda nossa vida de outra perspectiva. Foi a partir do nascimento que eu comecei a ver minha vida assim... de trás pra frente.

- Ei! Ô cara!! Tá maluco?? Ta viajando???

Todo amigo do tempo de faculdade tem uma paciência minúscula com a gente. É sempre assim. É isso que é legal nesse tipo de amigo. Eu não ouvi uma só palavra do que ele dizia e quando percebeu isso, me deu um chacoalhão! E a gente continuou ali... falando da turma, falando da Mega Sena, reclamando da profissão.

Já se vão 5 anos desde aquele nascimento e eu continuo olhando tudo às avessas... Pensando bem, criei minha autodefesa. Dói menos pensar no futuro quando, de alguma maneira, ele já passou. Aquele nascimento vai ficando para trás, cada vez mais distante, mas quando penso nele como o grande acontecimento por vir... dá menos saudade.

2010, aliás, foi sensacional!

Um comentário:

  1. Dani, a cada teto teu que leio te admiro mais... bjo, Michele

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